Por: Maria Cecilia Graner Fessel
Em toda casa há um balaio em algum canto
Com seus restos de retalhos, lãs e linhas
Sobras de um xale, de luvas ou de um manto,
Pontos antigos de avós e de mãezinhas.
Novelos róseos de sonhos inocentes,
Tons mais sombrios de escarpas e rochedos,
Fios alaranjados de áridos poentes
Negros carretéis de lutos e de medos.
Dos vermelhos quase não restou mais nada
Consumidos nas paixões e nos desejos
Mas dos verdes há meadas em cortejos
Que a esperança jamais fica abandonada.
E há azuis num leque de matizes
Desde o anil sem nuvens cor da flor de linho
Tingindo ingênuas horas tão mais felizes,
Ao profundo, misterioso azul-marinho.
Ah, pudesse a gente refazer bordados,
Inverter gregas, desmanchar cercaduras,
Transformar trapos em leves dobraduras
O balaio encher de sonhos recriados!
Enfim não sei se jogo esse balaio fora
E lá coloco um mais veloz computador
Ou guardo esse tesouro minha vida afora
Freando o tempo a mudar tudo ao meu redor...
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